domingo, fevereiro 22

quinta-feira, fevereiro 19

De súbito

O copo de alumínio sua
Pedras de gelo tilintam
Uísque até a boca
.
Antes do gole
A mão bole o peito
A respirção falha
.
O pensmento gira
A imagem escurece
A mente alucina
.
De repente, no chão
Abre-se um vão
As pernas desfalecem
.
Os olhos apontam cegos
Retos para debaixo da porta
A mão agora solta
Está morta
.
Uísque pelo carpete
Pedras de gelo voam
Souberam porque
Copos de alumínio soam.

quarta-feira, fevereiro 18

Catarsezinha...

Não me deixam viver porque acham que eu não aguento.
Tenho vivido entre os suspiros entediados da tolice cometida
Observo camuflado no ponto cego de seus antolhos
Enquanto jogo uma capoeira de escravos dentro da casa grande
A cada ginga, bato, rasteira e jogo areia
Areia nos pés, no corpo, nos olhos
Na estrada, passam tantos carros, ouço tantas vozes...
Meu único amigo é o chão em que piso.

segunda-feira, fevereiro 16

Papoula

Papoula
Flora Fina
Fina foi
Nossa hora
.
No ombro
Na pele
Marcada
Marca-me
.
No olhar
Em cada palavra
Sussurros e suores
Dias melhores
.
Na saudade do que nunca tive
Nas histórias que não vivi
Através de um sonho
Havia uma papoula a dilacerar minha realidade.

sábado, fevereiro 14

Insights da Madruga...

A música pop não precisa ser pobre. Música pobre é música sem mensagem, seja musical, seja poética. Penso dessa forma. Se a mensagem é uma merda, então a música é uma merda. São como as pessoas. Cada pessoa passa uma mensagem. É o que chamam de impressão. No entanto, pessoas são pessoas e pessoas causam impressões. Uma música é uma impressão em si mesma. Por isso podemos julgar as músicas pela impressão que causam. Já as pessoas...

quinta-feira, fevereiro 12

Persistência

Persistência é um bolo
Tem que saber.
Se solar, vira pilha
Vira uma piração.
.
Paciência ao tolo
Tem que ter
Até aprender a malícia
Pira na obsessão.

quarta-feira, fevereiro 11

Problemas poéticos

Difícil é andar nesta corda bamba. De um lado, os punhos amarrados da criatividade ao som do chicote ditador em função da necessidade de um constante exercício criativo. De outro, a criaçao livre, leve e solta, vindo como se fosse mediunidade, vivendo com o fantasma da atrofia pelo ócio a cafungar o cangote.
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Não é um leite diferente que você decide comprar neste mês. Não é a assinatura de um jornal que você decide por cancelar. Não são suas contas atrasadas. Não é o vazamento de óleo do carro, perigando bater o motor. Não é a carteira de motorista vencida. Não é a falta de um emprego.
.
Tudo isso tem solução. É seguir o manual.
.
Mas quando o assunto é poesia, malandro, o buraco é muito mais embaixo.
.
Entendo perfeitamente se ninguém comentar. Isso é para poucos.

segunda-feira, fevereiro 9

Áspas...

Ora, se sois compositores, deveis tomar nota de seus elementos. Como o carpinteiro precisa da madeira para compor o móvel, precisais vós dos livros, das músicas, dos amores e da vida para realizar o desejo de vossas vontades artísticas. Pois, se não lerdes os livros, as músicas, os amores e a vida, sereis os compositores ocos da vida a conceber a ópera sombria e deserta do acaso

quinta-feira, fevereiro 5

Ache a frase...

Alerta!
.
Vida
Intimidade
Diversidade
Altruísmo
.
Época
.
Pobreza
Alegria
Longe
Arquitetura
Verves
Revoltas
Altos
.
Baixos
Ordem
Não
Inteligência
Tartaruga
Alazão
.
Eu
.
Foda
Estrutura
Indígena
Africano

quarta-feira, fevereiro 4

Sobre o tempo que ninguém viu passar

Tenho lido há tanto tempo...
Como todo esse tempo lido
Me deixou pó
E não, polido?
.
Tenho tido tanto tempo
Mas todo esse tempo tido
Era para ser só
Mas não, sofrido.
.
Tenho visto tanto o tempo
Mas todo esse tempo visto
Foi ao léu
Não foi lido.
.
Tenho lido lenha?
É isso que têm crido?
Ou durante o tempo que tenho
Sou tolhido?

Poeminha de merda...Porque um poeta também é feito disso.

Amo porque preciso viver.
Vivo do amor que transborda nos meus versos.
Vivo do sentimento que finjo ter.
É isso. Amor-ganha-pão.
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No fundo, eu não amo.
Bem no fundo, eu sei que nada disso existe.
Eu sei que há uma vida real, bem ali fora.
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Uma vida cheia de intrigas, de ingratidões.
De mulheres falsas, cada vez mais falsas.
Fingem amizade, fingem apoio, fingem ser a princesa dos poemas escritos.
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Mas quando se sentem ameaçadas por um feio apaixonado, esquivam-se como cobras.
E, em poucas palavras, machucam e matam a alma do poeta.
Do poeta, claro, não a minha.
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Porque há muito eu já não amo.
Sou jovem demais para morrer
Tenho vida demais para viver.
Não posso ficar aí amando.

terça-feira, fevereiro 3

O Homem E Seus Símbolos

Diz a placa:
.
Olhe os carros.
.
Atravesso ao botequim.
.
Bebo
.
Me apaixono pela garçonete
.
Não tenho um tostão
.
Ela me ignora
.
Diz a placa:
.
Olhos caros.

Poema para Ana de Toledo

Li noutro dia e não senti nada.
Mas hoje eu me apaixonei.
Pela Ana ou por Copacabana...
Não sei.
.
Amor tem dessas coisas
Já me acostumei.
Anoto um monte de coisas...
Quando vi, risquei.
.
Mas hoje comento sem medo
Passei dessa fase, passei.
Defendo voraz esse amor literário
Se não rimar, tudo bem.

domingo, fevereiro 1

Enfim, o fim.

A mochila dos anos me marcava os ombros. Eu andava em direção ao passado. Ruas retas, poeira batida. O caminho para o passado estava bem tranquilo. A impressão era de que não me estavam sendo reservadas grandes surpresas. As de sempre, apenas.
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Fui chegando, encontrando, abraçando e beijando. Passado bom. Lembranças de amigos, lembranças que eu nem sabia que tinha. E vi fotos que eu não sabia que tinha tirado, ou em que tivesse aparecido. O passado foi se desdobrando para mim como se fosse um tapete, uma caixa frouxa, um caleidoscópio.
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Mas eu me sentia preparado, embora não houvesse razão para isso. O peso dos anos, das idas e vindas dessa vida. A poeira de tantos lugares acumulada em meus sapatos, a sujeira crônica dos lugares que toquei e o sopro do vento em meus ouvidos. Aqueles dez anos eram como uma medalha no bolso da frente da camisa. Um quinhão da vida que eu havia arrancado e que estava em mim. Pessoal, intransferível.
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Tudo isso me fez forte e, principalmente, seguro. Foi quando encontrei ela. O peso dos anos também lhe era aparente. A caneca de cerveja na mão, os papos, o andar, acho que isso não fazia dela a mesma de antes. Mas os olhos, as sobrancelhas, as feições eram exatamente as mesmas. O rosto pelo qual meu coração cambalhotou tantas vezes estava lá, embora todo o resto não estivesse tanto.
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Reconstruí a mulher na mente, complementando o que eu agora admirava. Meus órgãos comunicavam uma coisa estranha, e eu sabia que era por causa dela. Tudo em mim era outro. Eu estava me apaixonando de novo, ou estava voltando a ser o adolescente que, naquele tempo de adolescente, havia se apaixonado?
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Foi quando peguei sua mão e deixei que o adolescente falasse outra vez.
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- Não consegui ficar longe de você.
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- Como amigo, né? Respondeu o peso dos anos dela.
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Foi quando cristalizei, meio frustrado. Ela me abraçou de novo e eu senti como mil facas me atravessassem, embora soubesse com a certeza do Sol que nasce todas as manhãs que aquela seria a resposta que a realidade me daria. Pensei mil coisas num milésimo de segundo. Parei.
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Olhava para o nada enquanto era atravessado pelas facas. Ela me deu um beijo no rosto, apertou minhas bochechas de um jeito que só as ex-mulheres fazem. Senti que o fim ali havia sido selado.
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E eu segui em frente, mas fiquei como esse texto.
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Sem final.