segunda-feira, janeiro 22

Da série: poemas soltos que resolvo postar numa de...requentar!

Ode ao mini-pobre (Marcus Lotfi)

Corres da rua com medo do carro
Sinal verde - sem trocado
Saliva que sente secura na boca
De tanto falar assim descolado
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Vida sem sal, saída bem vil
Nos barracos, favelas e pseudo-construções
Caminham perdidos esses moleques
Fadados às eternas desilusões
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Nunca conhecerão a vida boa
Nunca saberão o valor do luar
Não olharão para o Sol, beijando o mar
Não ligarão, nem nunca vão ligar
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Nunca serão ninguém - alguns terão sorte
Viciados, bandidos, atiradores de fogo sem porte
Maioria na porcentagem da vida
Minoria do escape da morte
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Para eles a vida é aquilo
O sinal, o doce, o trocado
A cola, o vício, o drogado
A morte súbita, o desdém, o fracasso.

sexta-feira, janeiro 19

O que tirei pra mim

Do Valqueire ao sinal do cruzamento entre a rua Santa Luzia e a Professor Antônio Carlos, na ida para o trabalho, tenho ido e estado muito bem ao lado do meu aparelhinho de Mp3.Desde que comprei, é batata: parei, ouvi.
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O fato é que hoje encarei uma situação que me deixou bem triste, assim, por dentro, e lancei mão da tecnologia a bem do psicológico. Não é que deu certo? Pois bem, tirei das poucas 200 músicas que posso ouvir as frases que mais tinham a ver com aquele momento. Anotei já matutando a idéia de passá-las aqui no meu blog a vocês. Espero que gostem, viu?
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Aí e por aí vão:

- Hoje eu só quero que o dia termine bem.
- A lição está em cada gesto.
- This is your mistake in your best plan.
- Tudo que eu fiz foi ouvir o que o meu peito diz (...)
- (...) que apesar de toda mágoa, vale à pena toda luta para ser feliz.
- Confiando e acreditando que na vida todo mundo pode ser feliz.
- Porque a gente merece ser feliz.
- Coração da gente é igual país.
- Alguém sabe dizer o que é normal?
- Vai saber por que...
- Lê Paulo Coelho e Seicho-no-ie...
- Já de saída a minha estrada entortou, mas vou até o fim.
- Um bom futuro é o que jamais me esperou, mas vou até o fim.
- Sou livre para amar.
- Eu não devo nada a ninguém.
- I want you show me the way.

terça-feira, janeiro 16

Lavagem. Algo do que realmente sinto.

Durante muito tempo me contentei com esmolas sentimentais. No almoço um pequeno afago, entre uma garfada e outra. Um abraço às vistas dos outros, juras de amizade aos pés do Gim, nos bares do subúrbio. É horrível.
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Eu precisava de amigos. Eu precisava de carinho. Eu precisava ter o mínimo, e o mínimo era aquilo que qualquer um tinha. Não tinha.
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Andava pela rua tachado pelas costas, como sempre. Autista, débil, lerdo, nerd, entre outros sinônimos, segue lista. Amigos, tinha um ou outro. A maioria éram apenas outros débeis, nerds, lerdos e autistas, unidos a mim pelo respiro único do desprezo, um corporativismo que, sinceramente, funcionava melhor do que as políticas do Brasil.
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Na família, a coisa era diferente. Eu era o mimado. Tudo tinha que ser como eu queria, por minha ordem. Mais tarde eu fui descobrir que todo filho caçula é um pouco mimado mesmo e que toda a incompreensão, o desprezo gratuito, as cusparadas que levei na cara de meus próprios familiares da geração contemporânea foram completamente desnecessárias e fruto de um sadismo infantil. Na verdade, não era bem assim. Eu era mimado, mas boa parte das pirraças eram respostas e não perguntas, indagações, afrontas. Toda força de ação desenvolve uma outra de mesma direção e sentidos opost...enfim.
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Graças a Deus, passei a vida querendo ter amigos sinceros, mulheres de verdade e uma família compreensiva. Amigos eu tenho, mulheres, já tive, e quanto à família, dentro de minha casa já consegui alcançar muitas metas. Graças à falta de compreensão e excesso de desprezo e de subestima que me rodeiam até hoje consegui dar valor a essas verdadeiras coisas da vida. Tenho-nas como essenciais.
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A raiva, a revolta e a vingança misturaram-se num caldeirão de 120 quilos (entenderam ou quer que desenhe? hé!) e se transformaram, numa coisa meio ácido, base igual a sal e água, em tristeza e pena. O que costumo fazer, em momentos em que essa mistura faz efeito considerável, como agora, é me agarrar aos meus tesouros. Penso na minha mãe, no meu pai, no meu irmão, nos meus verdadeiros amigos, na profissão que amo tanto e numa mulher que está longe de chegar, ou perto, não sei.
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Minha alegria de viver se encontram em coisas eternas. Por isso é que estou sempre feliz, apesar de ter passado o pão que o diabo amassou. Sinto essa dor que nunca amansará, e sei que ainda vou sentir, mas, que bom que tenho agora como seguir em frente.
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É preciso muito espírito para entender que o "obrigado" tem muito mais valor do que o "de nada, disponha". Então eu perdôo desde já os carapuçados, que de certo não entenderão nada sobre esta mensagem, indignados e falidos.

quinta-feira, janeiro 11

Saber resistir.

Acho que perdi a manha, sabem? Não consigo mais tirar do fundo de mim aquelas frases, aqueles períodos que chegavam a ferir o âmago dos leitores. Algo me foi roubado.
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A inspiração talvez ainda haja. Fui ontem à casa de um amigo que de há muito não o via e senti novamente todo aquele frescor da juventude do intelecto. Toda uma facilidade apareceu e construí ali umas quinze ou dezesseis conclusões belíssimas.
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Mas agora estou aqui, feito um dois de paus, querendo escrever alguma coisa legal e simplesmente não consigo.
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Sabe de uma coisa?
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Foi por isso que fechei a maioria dos blogs que fiz. Acho que esse é o grande lance, saber resistir. Como atravessar um deserto. Falta água, às vezes, mas mesmo assim é preciso continuar, senão, a morte é certeira.
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A resistência de que falo é poder fazer, Sabinamente , da queda um passo de dança, do sono uma ponte e do medo uma escada. Conseguir fazer de palavras sem gosto, inertes num líquido sebento e muito mal convidativo, um preparado agradável, que talvez engorde, talvez emagreça, mas que seja doce e leve, tenro e temperado.
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Ao escritor falido e frustrado falta esta sabedoria. Enfrentar os leões do ócio e da ausência criativa concerne tarefa normal e comum ao escritor bem sucedido, ou simplesmente, vivo.

domingo, janeiro 7

Hoje e sempre. (Marcus Lotfi)

Hoje, foi foda.
Há dias em que não tenho paciência.
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Hoje, não aturei por muito tempo.
Há dias em que não estou de bem com a vida.
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Hoje, eu decidi não tolerar.
Há dias em que simplesmente eu não tolero.
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Mas hoje, eu continuo desejando a tua boca.
E há dias em que te desejo toda, apesar de tudo.
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Todos os dias.