terça-feira, janeiro 16

Lavagem. Algo do que realmente sinto.

Durante muito tempo me contentei com esmolas sentimentais. No almoço um pequeno afago, entre uma garfada e outra. Um abraço às vistas dos outros, juras de amizade aos pés do Gim, nos bares do subúrbio. É horrível.
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Eu precisava de amigos. Eu precisava de carinho. Eu precisava ter o mínimo, e o mínimo era aquilo que qualquer um tinha. Não tinha.
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Andava pela rua tachado pelas costas, como sempre. Autista, débil, lerdo, nerd, entre outros sinônimos, segue lista. Amigos, tinha um ou outro. A maioria éram apenas outros débeis, nerds, lerdos e autistas, unidos a mim pelo respiro único do desprezo, um corporativismo que, sinceramente, funcionava melhor do que as políticas do Brasil.
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Na família, a coisa era diferente. Eu era o mimado. Tudo tinha que ser como eu queria, por minha ordem. Mais tarde eu fui descobrir que todo filho caçula é um pouco mimado mesmo e que toda a incompreensão, o desprezo gratuito, as cusparadas que levei na cara de meus próprios familiares da geração contemporânea foram completamente desnecessárias e fruto de um sadismo infantil. Na verdade, não era bem assim. Eu era mimado, mas boa parte das pirraças eram respostas e não perguntas, indagações, afrontas. Toda força de ação desenvolve uma outra de mesma direção e sentidos opost...enfim.
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Graças a Deus, passei a vida querendo ter amigos sinceros, mulheres de verdade e uma família compreensiva. Amigos eu tenho, mulheres, já tive, e quanto à família, dentro de minha casa já consegui alcançar muitas metas. Graças à falta de compreensão e excesso de desprezo e de subestima que me rodeiam até hoje consegui dar valor a essas verdadeiras coisas da vida. Tenho-nas como essenciais.
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A raiva, a revolta e a vingança misturaram-se num caldeirão de 120 quilos (entenderam ou quer que desenhe? hé!) e se transformaram, numa coisa meio ácido, base igual a sal e água, em tristeza e pena. O que costumo fazer, em momentos em que essa mistura faz efeito considerável, como agora, é me agarrar aos meus tesouros. Penso na minha mãe, no meu pai, no meu irmão, nos meus verdadeiros amigos, na profissão que amo tanto e numa mulher que está longe de chegar, ou perto, não sei.
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Minha alegria de viver se encontram em coisas eternas. Por isso é que estou sempre feliz, apesar de ter passado o pão que o diabo amassou. Sinto essa dor que nunca amansará, e sei que ainda vou sentir, mas, que bom que tenho agora como seguir em frente.
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É preciso muito espírito para entender que o "obrigado" tem muito mais valor do que o "de nada, disponha". Então eu perdôo desde já os carapuçados, que de certo não entenderão nada sobre esta mensagem, indignados e falidos.

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