sexta-feira, dezembro 29

Da série: Pra desabafar

Quase bebo este frasco de perfume.
O Rio anda um caos, tô trancado.
Minha vida anda entupida de azedume.
Ninguém gosta de ser desprezado.
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A consciência já mandou perdoar.
Já perdoei, só que eu lembro.
O rancor eu sei que pode ainda estar.
Amnésia, eu não tenho.
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Nunca vi tamanha insensibilidade.
Embora eu já esperasse a dela.
Chorei por dentro de minha carne.
De tristeza, de raiva, dela.
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Este poema está feio.
Cheio de rimas, sem conteúdo.
Termino só pra não ficar no meio.
Pelo menos com a sensação de que disse tudo.

quinta-feira, dezembro 28

À propósito, leiam a Ode, que está formidável, qual diria minha amiga literata (?) Nina Andrade. Aliás, Marina, que tal como Sousândrade, Ninândrade? Cruel, não?

Da ode: Vielara

Vielara ao vento (Marcus Lotfi)
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Tua expressão séria não me convence
Deixo estar, mas sei que há bem mais
De onde veio aquele cheiro, aquele beijo.
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O que nos separa são palavras
As certas, apenas.
Passarei maus bocados?
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Não me sugeriram a teus prazeres
Ótima escolha, por isso invisível
Só Deus sabe onde posso te levar.
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Meu bem, sua sorte é que eu arrisco
Sua chance de sorrir aqui acena
Pelo menos por um tempo gozarás
Sentirás a vida em ti muito melhor.
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Não sossego enquanto não arrancar-lhe
Os sorrisos que sabemos de onde vêm
Um dia saberás, à hora certa
À hora em que for tarde demais.

Da ode: Vielara

Ainda por Vielara (Marcus Lotfi)
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Ah!
Vielara...
Que tara...
Quem dera...
Quimera!
Espera...
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Ah!
Eu te quero
Te venero
Te liberto
Dos meus sonhos
Só em sono pleno.
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Ah!
Vielara
Quem dera
Uma viela
E a vontade tua
De me beijar
De me beijar...
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Ah!
Que pena...
Não sabes
O quanto
A quero
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Ah!
Nem sei
Porque tanta coisa
Mas há - aqui
Tesão pra nós dois.
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Ah!
Vielara
Quem dera
Teu nome
Gritar numa cama
Sem o auxílio
Cruel
Do anagrama.

Da ode: Vielara

Paixão por Vielara (Marcus Lotfi)
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Guardo uma pose tua
De uma foto que nunca fiz
Filmes curtos paro e vejo
Olhando para o nada em mar perplexo.
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Você pára, pensa, olha e ri
E eu observo procurando o que dizer
Porque a coragem vem tranqüila
Quando acho as letras certas.
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Não vem nada bom pra ti
É armação dos Orixás
Mau-caráter, antes fosse
Paixão de paz, paixão de paz.
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Fico no olhar, mas um dia há de vir
Teu perfume em meu nariz
Teu pescoço em minha boca
Até que a chama se consuma.
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Não há esperanças, mas há
O que eu quero e o que sou
Confusão amiga, velha companheira
Do adolescente que se apaixonou.
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Será que um dia eu vou sentir esse gosto?
Essa boca que deve ser boa de beijo?
Paixões consumadas no espaço proposto
A partir de instantes em que lhe vejo.

quarta-feira, dezembro 27

Além do que se vê

Pensamentos concentrados em letras de Los Hermanos. Resgatadores legítimos da música brasileira em tempos de reclusão cultural e avesso ao novo. A única banda que me fez deixar Chico Buarque, o velho mestre, um pouco de lado.
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Los Hermanos - Alem Do Que Se Vê
Marcelo Camelo

Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê

Sei que a tua solidão me dói
e que é difícil ser feliz
mas do que somos todos nós
você supõe o céu.
Sei que o vento que entortou a flor
passou também por nosso lar
e foi você quem desviou
com golpes de pincel

Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
que o bloco da família vai atrás

Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
pede pro Tico me esperar
e avisa que eu só vou chegar
no último vagão

É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
que eu também vou atrás
e a banda diz: assim é que se faz!

Sei que a tua solidão me dói...
Sei aquela mesa de jantar...

quarta-feira, dezembro 20

Da série : Terapias de Pobre

Comprei uma mochila nova que não era de marca, mas era muito boa. Quando cheguei em casa, fui tirar tudo o que estava na mochila velha, retirando e jogando fora o que não quisesse mais. Foi aí que resolvi dar uma geral no meu quarto. Ajeitei minha mesa com minhas bugingangas preferidas, arrumei minha mochila com todos os meus possíveis desejos imediatos de leitura e escrita, achei nos bagulhos uma carta de uma ex-namorada minha, com pedidos de desculpas e juras de amor.
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É claro que fazer essas coisas me deixou muito mais pensativo e aliviado. Por isso, lembrei que o dinheiro deu, e consegui hoje também comprar aquele livro que eu queria tanto. E consegui, também, recuperar a grana que eu gastei naquela outra mochila, que rasgava toda hora. E consegui, também, ter minutos muito agradáveis com minha namorada ao telefone. E consegui, enfim, também, respirar mais esperançoso de que alguns tijolinhos da vida pudessem ser mudados. Consegui pensar no meu próximo, consegui querer fazer o bem, consegui chegar um pouquinho mais perto do verdadeiro propósito da vida.
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E consegui, também, por fim, economizar anos em terapia.

segunda-feira, dezembro 18

A vida é melhor aqui...ahã.

Subindo as escadas rolantes que levam à estação Central, eis que deparo com um cartaz que dizia assim : "Aqui a vida é melhor". Tive que rir. Não sei se vocês já tiveram a gloriosa experiência de embarcar num vagão de metrô na estação Central. Olha, com toda a sinceridade que me há, juro por tudo aquilo que considero sagrado, nunca vi tanta gente apertada.
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O bom é que você não precisa se segurar em nada, o que é um saco, dói tudo...No metrô das 8 e poucas da matina você pode até esquecer da vida, não cai não. Não há para onde cair.
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Aí o Metrô-Rio lança, vagabundamente, um slogan safado que diz que a vida é melhor lá. Bem que o Cesar Maia tem uma cara de velho sadô-masô, mas - putz - cada um com seu cada um, né?