terça-feira, setembro 18

Perdão e Fingimento

Eu o imagino como uma outra pessoa.
Converso sem olhar seu rosto. Finjo.
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Deixo que fale coisas, descarto as que me comprometem.
Falo apenas do etéreo. E o suporto.
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Vez por outra, solto uma piada pelo rasgo tímido que se abre em minha face.
Deixo que se esvazie o riso fraco. E prossigo.
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Meu pensamento e o dele são completamente diferentes.
Minha busca é uma. Sua busca é outra.
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[as palavras]
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Vejo-o fincá-las em minhas pernas, tentando escalar novamente meu coração.
Eu deixo, faço que não vejo. Finjo.
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Vejo-me cozinhando-as, palavreando uma receita que me faça perdoá-lo.
Mas porquanto não consigo. Finjo.

Primo Geógrafo

As cidades se confundem. Não há paisagem.
Conurbação.
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A pedra estava coberta d´água. Influência direta da Lua.
Maré.
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Vossorocas, chapadas, lagoas e outros rasgos e fenômenos.
Tudo.
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A ação do homem acelerando a ação da natureza.
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Justamente o que me faz entender a importância de deixar as coisas como estão.
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Mas, primo, e os açudes?
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E as represas?
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E a fertilização das terras improdutivas? E a reforma agrária?
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E a ação dos homens que tentam retomar a ação inibida da natureza?
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Eu sei que você sabe.
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Só quis te mostrar que aprendi sozinho.
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Que a gente pode consertar as merdas que a gente faz.

Meu mundo continua porque planto flores

Flores se espreguiçam
Dominam meu espaço
São tantas cores, tantos nomes
Que me esqueço das dores
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Como o caseiro esquece o estrume
Entre as nesgas jogadas pelo orgulho
É também nesga o esforço
Nesga o jardim inda só sob a terra
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Mergulho, me esfrego
Não espirro nem coço
Pólen, Claras, Flores
E o Sol potente
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Gozo, quero, respiro
Impero, libero, preciso
Caio, tranco e mio
Tento, enfrento e rio.