terça-feira, julho 13

Corrigindo um legado

Depois que eu casei, eu entendi porque meu pai reclamava tanto. Não era da minha mãe, era da luz acesa, da televisão ligada, da geladeira aberta, das horas no banho, da louça suja espalhada pela casa, das roupas espalhadas também. Ele estava certo.
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A história tinha tudo para terminar por aí, mas comigo, não terminou. Hoje, meu primo veio aqui em casa e estávamos na parte da frente de casa, sentados no chão e as luzes da cozinha e da sala estavam acesas, com a televisão ligada. Não desliguei nem falei, com meu tom básico de esporro-pai, para desligarem. Naquilo que, aparentemente, era matéria paga, enxerguei uma coisa diferente.
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Percebi que o ser humano não é uma máquina, não pode ser tão sistematizado assim. Existe uma necessidade de conversar ouvindo o sonzinho da TV e não agrada os olhos da gente, conversar sob a luz de uma única lâmpada na parte da frente da casa. Ali, estava havia sido construído um ambiente que agradava os presentes. De uma forma que eu acabava de conhecer, aquelas luzes e a televisão estavam sim sendo usadas. O foco, no entanto, não estava ali.
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Num certo momento, todos fomos para a cozinha. A TV e a luz da sala, então, deixaram de fazer parte do ambiente. Perguntei, sem tom de esporro-pai, mas de jovem marido (rs): "Alguém está vendo televisão?". Acho que com medo do esporro-pai, ninguém respondeu, e eu fui lá e desliguei.
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Meu pai nunca esteve errado em quase 30 anos reclamando. Existe uma explicação lógica para isso: era ele quem trabalhava e pagava aquilo tudo. O espaço era dele e, justo, tinha que ser como ele queria. Você gostaria que mandassem na sua casa? Que nela fizessem de tudo? Que lhe contrariassem? Claro que não. Isso, a gente engole na rua, no trabalho, onde é terra de todos. Mas acho que este fato representou um traço na evolução dos homens de geração para geração.
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À propósito, acho difícil parar de reclamar. Provavelmente, continuarei um chato por pelo menos mais 20 anos (não que eu vá morrer com 45, e não quero, MESMO!!!). Entretanto, menos chato, menos reclamão do que há 30 anos atrás. Um abraço!

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