quarta-feira, maio 13

Catarse besta

às vezes bate um vento que me muda de lugar
sopra na cabeça e espalha minhas idéias
feito um cinzeiro sujo depois dum espirro enganado
.
quando esse vento bate, bate uma saudade
de um olhar que penso ter perdido
da facilidade que eu tinha em olhar a vida
.
falta daquele talhe que descobre a matéria viva e o carpete frágil das ilusões do dia a dia
.
falta de andar denso, de sentir aguçado os grãos de areia nas solas dos tênis
.
falta de conviver com a poesia como se ela fosse um cachorro bravo, mas domesticado por mim
.
falta.
.
como se eu fosse um leigo, um vazio, um despreparado...
.
o que fazer, para tapar os furos deste pote?
.
o cerne da minha vida tem sido correr atrás deste maldito mote
.
enquanto não achar o xis, fica difícil qualquer bis
.
qualquer poema parece escrito a giz
.
qualquer rima parece já nascer morta
.
qualquer estrofe sai torta
.
qualquer gestação poética aborta
.
penso: até quando?
.
penso até quando?

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