sábado, janeiro 24

A casa de madeira

Na casa viva de madeira, fascino os olhos.
Brilho na covardia da madrugada.
Sossego no fim do dia, tiro os antolhos.
Cismam em nos cegar no andar da estrada.
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Na casa viva de madeira, cada passo fala.
Range, como se fosse massa.
Comporta, sente, se faz notar.
Sente como eu sinto. No corpo.
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Na casa viva de madeira, as portas são maiores que os buracos que vedam.
As vigas sustentam pedaços cada vez mais tortos.
Camadas que já não se encaixam
Vidros que bambeiam nas janelas.
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Na casa viva de madeira, tudo muda.
Hoje ponho um vaso ali, daqui dois anos não ponho mais.
Mas não faço remendo.
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Na casa de madeira não cola fita nem massa corrida.
Mas eu sei o que é isso, e não é a morte.
A madeira não é só corte.
A madeira é um pedaço de vida.
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Na mão do homem, se molda e se cria.
A madeira se corta, mas a alvenaria
É inventada, tecida, pelo humano e não pelo Guia.
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Por que, então, haveria, da madeira entortar?
O corte do caule divino é herege
Enquanto a pedra humana, Deus privilegia?
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Ou será que é porque é viva,
Entorta, cresce e toma outras formas,
Enquanto a casa de alvenaria
Vinda de um sopro que o homem não cria
Já nasce assim, de morte morrida?

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