quarta-feira, fevereiro 20

Perseverança

O talento e a perseverança são como Roberto e Erasmo: o primeiro é bonitão, idolatrado e leva todo o crédito, mas quem bota pra andar mesmo é o segundo. Desde que comecei a estagiar, convivo na presença dos elogios. É um "seu texto é muito bom" pra cá, um "mas que apuração você tem" pra lá , um "você é brilhante" aqui, um "eu confio em você" acolá...E foi numa dessas que eu caí hoje.
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Erro meu, já pra começar. Acho legal comentar o que eu aprendo de verdade pela vida com vocês. Bom, voltando, erro meu. O fato é que fui bastante elogiado nesse primeiro mês de empresa, e é lógico que estou dando um gás foderástico. Caí no canto da sereia quando fui cotado para gerenciar uma conta sozinho.
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Ainda no meio dos elogios, explodi de felicidade, achando que já tinha saído vitorioso do desafio que é ser assessor de imprensa. Não, não foi assim - graças a Deus.
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Hoje compareci a uma reunião com o sócio-diretor dessa empresa que, a princípio, seria atendida por mim em 90 % quase. Fiquei nervoso, tremi. Sabia que não dominava aquilo e que precisava de muita vontade para chegar no nível da minha antecessora. Até aí, estava tudo sob controle. Ter consciência das falhas antes de falhar, pra mim é um sinal de exímia competência.
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Entretanto, na volta, minha gerente disse que eu havia ficado nervoso, que pensou em dizer "caaaalmaaaa..." (coisa de mulher) e que eu ainda não havia pegado o esquema. Adeus "garoto-talentoso-que-com-um-mês-de-empresa-ganha-um-cliente". Eu me senti menosprezado.
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Erro meu.
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Voltei pelas ruas de Botafogo digerindo essa idéia e brigando com meu ego. Ciente de que ela estava obviamente certa no que dizia, eu ia doutrinando essa parte podre da minha essência no afã de tomar uma postura profissional e superior ao erro.
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Foi a minha primeira reunião, e aprendi muito com o que não foi dito.
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Na hora do "vâmo vê", o talento é um gosto ralo. O que conta mesmo é a experiência e familiaridade com o assunto - essas coisas que só vêm com o tempo.
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Quando essa conclusão bateu minha cuca, abri um sorriso de satisfação. Havia enfim processado toda aquela idéia.
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Eu estava aprendendo a perseverar. E os meus elogios, textos e gueri-gueris nada passavam de cubos de gelo nas mãos de um carpinteiro. Obrigado à chefe, à minha gerente e à situação, que, mesmo sem saber de nada, me deram uma senhora aula hoje.
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