sábado, dezembro 22

Conclusões de um aleijado

Minha nada atlética aparência não veio por querer. Ao longo dos poucos 23 anos, pude tentar de vários jeitos ser um cara pelo menos jeitoso com as atividades físicas. Até os 18, fiz natação, treinei judô, karatê, capoeira, fui goleiro (muito bom, por sinal) e até foi cogitado meu ingresso num clube profissional de tênis de mesa. Não foi em vão, mesmo.
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Durante um tempo, também fiz aulas de basquete, mas eu gostava mesmo era das artes nas bolas do esporte. Tive várias, de várias marcas, em cores, desenhos e assinaturas diversas. Participei também, por pressão dos colegas, da escolinha de futebol do condomínio, onde meus pés até faziam um gingado diferente na hora dos passes. Mais tarde fui ver que isso era um mal crônico: samba.
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Na faculdade de Comunicação, aprendi que as duas linguagens universais do jovem são o esporte e a música, e que geralmente quem é muito de esporte, não é de música, e quem é muito de música, bem, é como eu. Claro que existem muitos caras e moças que convivem com as duas atividades numa nice completa, exemplos disso são Chico Buarque e seu Politheama e Gabriel o Pensador com seu surf e seu skate no Cantão.
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Entretanto, certa vez disse Tom Jobim, que todo bom músico é, no fundo, um aleijado..."fulano tinha paralisia, e por isso era ótimo pianista", e toma-lhe uísque nessa veia. Isso tudo é pra dizer que minha paixão pela música, poesia e literatura substituiu na marra qualquer esboço esportivo que eu pudesse fazer.
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Meu pai conta uma história onde ele estava a consertar o carango e me chamou pra viver aquele momento. Coisa de pai, sabe qual é, né? Então...Só que, quando ele se deu conta, eu já tinha enfileirado as chaves de boca, da menor para a maior e curtia com uma chave de fenda um xilofone improvisado. Foi assim que ele viu que eu tinha nascido aleijado mesmo.
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O esporte, por ironia, traduziu pra mim uma das maiores lições de vida pelas quais pude passar. No carro, vindo pra casa, estava lembrando do fundamento básico do judô: "Use a força do inimigo para seu benefício e, na queda, cair com tal técnica que amorteça melhor o impacto". Assim é a vida, são as adversidades. E um dia você aprende (baixou o Shakespeare...aquele texto, do ´um dia você aprende...um dia você entende...´ ts...) que é preciso usar a força das crises em seu próprio benefício, e numa eventual e normal queda, é preciso ter tal técnica que amorteça em maior quantidade o impacto.
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É nessa que a gente vê que nada que a gente passa ou vê ou nota é por acaso. Tudo serve pra alguma coisa em algum momento. E o esporte, que julguei não inútil, mas desnecessário, me deu um banho de água fria de vestiário, desses que a gente toma o choque térmico, mas agradece, porque o calor estava forte na moleira.
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Então fica aqui o meu "Valeu!" para o esporte e demais atividades físicas, que, pode crer, não exercitam apenas os músculos e não aprimoram apenas a estética.

Um comentário:

Thais Façanha disse...

Caramba, cara, tô gostando do seu blog!

Me identifiquei com essa coisa de música x esporte... Eu já fiz balé, jazz, aeróbica, musculação, natação, ... Já quis ser jogadora de vôlei, capoerista, etc... Mas a verdade é que qualquer coisa que tenha bola (no esporte!) não combina com a minha personalidade...

Mas o pior é que violão e pandeiro também não...

Em 2008 vou tentar cantar!