terça-feira, outubro 16

Os problemas dele(s)

À princípio, sinto-me mais à vontade dentro da minha mente. Lá tenho minha cadeira de balanço e meu cachimbo com fumo de cereja e chocolate. Assim nino agradavelmente meus cento e trinta e quatro anos de idade. É tudo escuro, mas as vistas cansadas já não me permitem tanto vigor. Tudo. As falhas deste novo cenário, bem como suas vantagens constam como elementos da mais pura e comum naturalidade, e nada me aflige.
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Ao andar pela cidade é que sinto que, de uma maneira besta, estou bem mais perto da morte do que do lado de dentro. Aqui fora, tenho vinte e dois, e vivo estressado com as coisas mais ridículas. Ando com aquelas calças jeans surradas e com o cós roçando a cueca.
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Estou sempre andando, sabe. E sabe lá pra que bosta de lugar eu vou. Não importa se esse lugar é a Amazônia ou o quintal da minha casa. Eu estou sempre com fé em Deus e pé na tábua em busca do sucesso na profissão de jornalista. Ai, comer rosquinhas com William Bonner, doses desenfreadas de uísque com Arnaldo Jabor, ai, ai...
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O que eu sei é que eu fico vendo este bostinha andar pra lá e pra cá e não sei se me ajeito novamente na cadeira, ou se troco o cachimbo do canto da boca. Moleque tapado. Poucas coisas a velhice deixou para me irritar. Uma delas é esse rapaz.
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O problema dele é que ele não enxerga o peso de suas próprias experiências.
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Será que um dia morarei nesta tranquilidade? Vivo nesta busca, sempre correndo, será? Esse velho me perturba o tempo todo, o tempo todo, o tempo todo...Esse velho me incomoda. Fica lá sentado, com aquele cachimbo dele, se achando o tal. Mas lá dentro é mole, com as cortinas fechadas, o clima estável debaixo de suas cobertas, curtindo o balanço daquela cadeira.
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Talvez nem saiba o que eu passo aqui fora. Pra quem ainda não teve tempo de mostrar o seu valor, a vida é dura...E como é. No cansaço, costumo ouvi-lo, mas apenas quando não estou com raiva. Na verdade, não costumo ouvi-lo nunca. Ele sempre tem uma solução pacífica pras coisas, muito ao contrário da vida que eu levo. Está fora, fora da realidade.
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O problema dele é que ele não enxerga o peso das experiências no interior da nossa particularidade.

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