quinta-feira, agosto 16

Saudades de Madureira - parte I

Vou entoando essa cantiga doentia. Passo após passo, martelando no peito a dor, empurrando pra dentro com um mate, adoçando com sete balas de canela. Já sei que sempre que sinto esse frio no estômago, esse vácuo no interior, onde moram minhas certezas, é a dor da falta, do esquecimento, do desprezo.
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A minha vontade é sair correndo, entrar no banheiro desta faculdade e chorar, gritar. Sinto tantas saudades...
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Saudades de Madureira. Do cheiro de macumba, da alegria das pessoas, da simplicidade inevitável e da ridícula aparência dos que se negam a isso. Saudades da cerveja em garrafa, do sufoco diário compartilhado, compartilhadíssimo. Do poder e do conhecimento que eu tinha ali dentro.
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Hoje, sou um medalhão da história daquele campus. Um veterano esquecido, que disse muitas coisas engraçadas e que, para o exemplo dos calouros, trabalhou de graça e hoje ganha mais que muita gente formada. Sou passado.
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Para variar, o tempo no laboratório está acabando, a professora resolveu começar a aula em dez minutos e não é a minha turma.
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Continuo com as mesmas vestes de Madureira, com o mesmo espírito de Madureira. Mas agora estou na Barra da Tijuca. Sou um peixe lindo e crescido, pronto para nadar e alcançar corais e paisagens. Mas estou fora d´água. Para sempre.

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