quinta-feira, fevereiro 15

Podre e Belo Cotidiano

A repartição o havia repartido naquela tarde. Nem o almoço às custas dos amigos reanimara aquela carcaça. Recém separado, de dívidas até a testa, e o Tuca, o cocker, havia se envenenado com o chumbinho da vizinha neurótica. Não iria fazer nada de bom grado, e trabalhar, de certo que não. Toca o telefone. Toca de novo. Toca de novo, e ele vai invocado ao gancho.
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- Quem é?
- Sou eu.
- Eu quem?!
- Não reconhece a minha voz?
- Escuta aqui, minha querida, eu não estou aqui pra isso.
- Mas eu estou.
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E acenava com a mão a menina linda do setor ao lado, com a outra segurando o telefone de ramal subsequente.
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Foi a gota d´água que ocorrera em cima do fim do expediente. O suficiente para que aquele trapo de homem se levantasse da sua mesa e, de peito estufado, dissesse:
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- Hoje eu me fodi mais do que qualquer outro dia de minha vida. E acho que devo comemorar.
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Passou a mão no paletó, saiu, e foi seguido timidamente.

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